Sons
Cardíacos
Uma das etapas mais
importantes no exame físico do paciente cardiopata é a auscultação cardíaca.
(Você poderá saber mais sobre a auscultação cardíaca na seção de Exames
Cardiovasculares). O coração emite sons cardíacos que quando normais
são de curta duração e conhecidos como sons de transição. Estes sons estão
relacionados com o ciclo cardíaco. Como sons cardíacos de transição ou normais
incluímos os dois primeiros sons cardíacos (S1 e S2) também conhecidos como
bulhas cardíacas, sons sistólicos de ejeção, clicks sostólicos, sons diastólicos
precoces e o terceiro e quato sons cardíacos (S3 e S4) ou bulhas cardíacas
acentuados. Quando comentamos sobre sons cardíacos não podemos deixar de falar
dos Sopros Cardíacos. Os sopros constituem o grupo de sons cardíacos de vibração
e de longa duração. Possuem variedades para distinção em intensidade, tempo,
radiação, frequencia e localidade.
O Primeiro som
cardíaco S1
Ocorre no início da sístole
ventricular. É um som alto, longo quando comparado ao segundo som cardíaco (S2).
A maior audibilidade do primeiro som cardíaco está associado ao fechamento das
válvas atrioventriculares mitral e tricúspide. O som não é causado apenas pelo
fechamento destas válvas, mas sim, pela desaceleração e aceleração do sangue e
tensão das cúspides das válvas, cordas tendíneas e estruturas. Outro elemento
que contribui para a vibração do primeiro som cardíaco é a vibração durante a
contração do músculo ventricular e abertura das válvas semilunares ao término da
contração isovolumétrica e a rápida aceleração do sangue nos ventrículos. No
cão, o primeiro som cardíaco tem aproximadamente 80 mseg de duração e começa
aproximadamente 20 mseg depois do término da despolarização ventricular próximo
ao complexo QRS do eletrocardiograma. O primeiro som cardíaco é mais alto em
animais jovens, de tórax fino, alto tônus simpático, taquicardicos, hipertensos
e anêmicos. Cães com doença valvular adquirida causado por insuficiência mitral
geralmente apresentam o primeiro som cardíaco com aumento de intensidade.
Diminuição da intensidade do primeiro som cardíaco pode estar presente em
pacientes obesos, com efusão pleural ou pericárdica, hérnia diafragmática,
enfisema, choque, contração miocárdica prejudicada (cardiomiopatida dilatada) ou
prolongamento do intervalo P-R.
Desdobramento de
S1
O desdobramento é gerado
pelo fechamento asincrônico das válvas atrioventriculares ou acentuação dos
componentes de ejeção atrasados do primeiro som cardíaco. O desdobramento pode
ser percebido no ápice cardíaco e na região da válva mitral (ou foco mitral) em
cães sadios e de grande porte. Este som pode estar atribuído à distúrbios
elétricos (bloqueio de ramo, batimentos ectópicos) ou por fatores mecânicos
(estenose mitral e tricúspide). Estes fatores geram este fechamento asincrônico
entre as válvas atrioventriculares. O desdobramento do primeiro som cardíaco
deve ser distinguido do ritmo presistólico, de galope, sons de ejeção e clicks
sistólicos.
Sons de
Ejeção
Os sons de ejeção possuem
alta-frequência e ocorrem antes da sístole em caso de hipertensão, grandes vasos
dilatados e abertura anormal das válvas semilunares. Estes sons são melhor
auscultados na base esquerda do coração nas áreas (focos) mitral e pulmonar.
Este som está presente em pacientes com cardiopatias congênitas como tetralogia
de fallot, estenose aórtica e pulmonar e cardiopatias adquiridas como
dirofilariose.
Clicks
Sistólicos
São sons curtos, de
frequência média para alta e geralmente ocorrem no meio da sístole ou na sístole
atrasada. É melhor auscultado nos focos mitral e tricúspide. É comumente
encontrado em cães com doença degenerativa das válvas e quase sempre acompanhado
pelo sopro sistólico gerado pela regurgitação mitral. Os clicks sistólicos podem
ser confundidos com o ritmo de galope, mas pode ser distinguido notando que
trata-se de um som ouvido entre S1 e S2.
O Segundo som
cardíaco S2
Este som possui
alta-frequência e curta duração (60 mseg em cães) e é melhor auscultado nas
áreas (focos) das válvas pulmonar e aórtica. As vibrações que contribuem com a
formação deste som são produzidas pelo relaxamento muscular, vibração do sangue
nos grandes vasos e abertura das válvas atrioventriculares. O segundo som
cardíaco ocorre no término da sístole ventricular, próximo ao final da onda T no
ECG. Este som corresponde ao fechamento das válvas semilunares aórtica e
pulmonar. Em cães e gatos, a valva aórtica (A2) precede a válva pulmonar (P2) no
fechamento, em um espaço bem curto de tempo que é quase sempre não detectável na
auscultação fazendo com que o segundo som cardíaco seja auscultado como um único
som.
Desdobramento de
S2
O desdobramento de S2 pode
ser auscultado durante a inspiração em pacientes sadios ou de raças grandes. A
válva pulmonar fecha-se atrasada à válva aórtica. O desdobramento de S2
patológico é causado pelo não sincronismo das válvas semilunares, anormalidades
hemodinâmicas ou distúrbios elétricos como bloqueio de ramo e extrasístoles.
Cães com defeito do septo atrial apresentam desdobramento de S2.
Desdobramento de S1
e S2
Sons Diastólicos
Precoses
Raramente é detectado em
animais domésticos. Ocorre logo após o segundo som cardíaco (S2) no tempo de
máxima abertura da válva atrioventricular. Tumores atriais podem causar sons
similares.
O Terceiro som
cardíaco S3
É um som de baixa-frequência
gerado por batimentos ventriculares muito rápidos. É difícil de auscultar na
maioria dos animais sadios. Quando auscultado implica falha cardíaca
(miocardial) disfunção sistólica especialmente. Outras causas da presença do
terceiro som cardíaco é a regurgitação mitral, hipertireoidismo e anemia. O
terceiro som cardíaco é auscultado com o cone do estetoscópio posicionado
próximo ao ápice cardíaco ao longo da borda esquerda do osso esterno.
O Quarto som
cardíaco S4
É um som produzido pela sístole atrial e
difícil de ser auscultado em animais sadios. Vibrações iniciais geradas por uma
ejeção forte de sangue dos átrios pode produzir este som de baixa-frequência. O
quarto som cardíaco é ausultado usando o cone do estetoscópio posicionado
próximo ao ápice cardíaco.
Ritmo de
Galope
É a sequência de três sons consistindo do
primeiro e segundo sons cardíacos (S1 e S2) e um som extra que geralmente é a
intensificação do terceiro ou quarto sons cardíacos (S3 e S4), ou ambos. O ritmo
de galope é classificado como protodiastólico quando ocorre a acentuação do
terceiro som cardíaco (S3), presistólico quando ocorre a acentuação do quarto
som cardíaco (S4) e somatório quando ocorre a presença do terceiro e quarto sons
cardíacos. A presença deste tipo de som geralmente indica falha cardíaca e
miocardiopatria avançada. O ritmo de galope mais comum em cães é o
protodastólico onde a acentuação do terceiro som cardíaco está relacionado à
insuficiência mitral, cardiomiopatia dilatada, defeito do septo ou ducto
arterioso persistente (PDA). Em cães com insuficiência mitral, o sopro pode
mascarar o terceiro som cardíaco acentuado. Em gatos, este som está mais
comumente associado com doença congestiva, cardiomiopatia dilatada,
hipertireoidismo ou anemia severa. A presença de um som presistólico antes do
primeiro som cardíaco está quase sempre presente em pacientes com hipertrofia
ventricular e em gatos com cardiomiopatia hipertrófica.
Sopros Cardíacos
Os sopros cardíacos são sons de longa
duração. São causados por alterações na comunicação das câmaras cardíacas como
estenoses das válvas, válvas insuficientes ou por alteração da viscosidade
sanguínea. (você poderá saber mais sobre as doenças abaixo na seção
distúrbios e patologias cardiovasculares).
Sopros
Sistólicos
Sopro Inocente ou
Fisiológico
É um sopro não patológico mais comumente detectado em pacientes jovens sem evidência de doença estrutural. Pode ser causado por aumento dos batimentos cardíacos e diminuição da viscosidade sanguínea. Geralmente é difícil de distinguir o sopro inocente do fisiológico.
Sopro da
Insuficiência Mitral
Este sopro é alto na área (foco) da válva mitral e átrio esquerdo, radia-se dorsalmente ao hemitórax direito. Pode ser confundido com regurgitação tricúspide. Geralmente o segundo som cardíaco (S2) encontra-se mascarado por este sopro.
Sopro da
Insuficiência Tricúspide
Este sopro é melhor auscultado próximo ao terceiro e quinto espaços intercostal direito próximo a junção costocondral. As vezes o sopro da insuficiência mitral irradia-se para este lado atrapalhando a distinção entre ambos.
Sopro da Estenose
Aórtica
A estenose aórtica é um defeito congênito pouco comum da válva semilunar aórtica. O sopro gerado na estenose aótica é do tipo crescendo-decrescendo e melhor auscultado na base esquerda do coração.
Sopro da Estenose
Pulmonar
É um sopro de alta-frequência melhor auscultado no lado esquerdo da base do coração acima da área (foco) da válva pulmonar. É um sopro típico crescendo-decrescendo.
Sopro do Defeito do
Septo Atrial
É um sopro sistólico de ejeção, alto, auscultado acima da área (foco) da válva pulmonar e está geralmente combinado com o desdobramento de S2. O sopro é causado pelo aumento do fluxo sanguíneo que atravessa a válva pulmonar.
Sopro do Defeito do
Septo Ventricular
É um sopro alto melhor auscultado na parte cranial do hemitórax direito.
Sopros
Diastólicos
Sopro da Estenose
Mitral
A estenose mitral é um problema congênito. O sopro da estenose mitral é auscultado no ápice cardíaco esquerdo na área (foco) da válva mitral.
Sopro da
Insuficiência Aórtica
A insuficiência aórtica geralmente é causada por endocardites, mas pode ocorrer associado a doença congênita. O sopro da Insuficiência aórtica inicia imediatamente depois do segundo som cardíaco S2. É melhor auscultado acima da área (foco) da válva aórtica.
Sopro da
Insuficiência Pulmonar
Este sopro inicia em diástole prematura. É um sopro do tipo decrescendo geralmente acompanhado por um sopro de ejeção acima da área (foco) pulmonar. Este sopro está presente na estenose pulmonar e em caso de ducto arterioso persistente (PDA).
Sopros
Contínuos
O sopro característico do ducto arterioso persistente (PDA) é contínuo, isto é, sistólico e diastólico (som de maquinaria). É melhor auscultado acima da área (foco) aórtico e pulmonar. Fístulas arteriovenosas pulmonares produzem sopros contínuos assim como fístulas arteriovenosas coronárias.
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